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Manifesto pela Coalizão Inter-fé em Saúde e Espiritualidade

Manifesto pela Coalizão Inter-fé em Saúde e Espiritualidade

Os participantes são um grupo formado por profissionais da saúde e líderes religiosos que começou a se reunir na Casa da Reconciliação em 09 de maio de 2015 para explorar possibilidades de apoio espiritual a pacientes, seus familiares e colaboradores. Nós concordamos com os seguintes pontos:

 

O cuidado da saúde deve sempre contemplar todas as dimensões humanas, o que inclui a dimensão espiritual. Esta engloba elementos transcendentes de significado, propósito e conectividade, e é tão importante para a qualidade de vida quanto as dimensões física, mental, social, entre outras.

 

Muitas pessoas expressam sua espiritualidade através de suas religiões formais ou através de suas crenças tradicionais. Outras ainda fortalecem sua dimensão espiritual com elementos não religiosos, como a prática de ações éticas ou o contato com a natureza.

 

A ciência tem vasta documentação sobre a associação positiva entre o bem-estar religioso-espiritual e inúmeros parâmetros da saúde física e mental. Pesquisas clínicas também enfatizam a importância do apoio religioso-espiritual nos tratamentos para a recuperação da saúde. A própria Organização Mundial de Saúde tem diversos documentos enfatizando isto.

 

A fé é ainda mais importante em momentos de intensa fragilidade de saúde, como durante uma internação hospitalar. A perspectiva da doença, da incapacidade e da morte tendem a despertar o medo, a sensação de impotência e a ideia de finitude. A fé pode iluminar positivamente essas realidades, atribuindo-lhes um sentido de transcendência, sendo, portanto, fonte de conforto, esperança e fortalecimento. Toda instituição de saúde deveria enxergar o ser humano além da doença e do tratamento do corpo, buscando todas as formas possíveis para compensar as carências espirituais do paciente.

 

Entendemos que haja várias formas de fornecer apoio a essas necessidades e sustentação da fé. A experiência de tratamento clínico pode ser humanizada em várias frentes, como conforto ambiental e profissionais empáticos. A intervenção psicossocial é fundamental para o equilíbrio emocional e também, em muitos casos, a necessidade de apoio espiritual.

 

O apoio espiritual pode ser por uma denominação religiosa específica, ecumênico, interreligioso ou interfé. Pode ser oferecido por ministros religiosos e/ou por voluntários especialmente preparados. Pode ser por capelães lotados na instituição e/ou por visitadores externos. Estas visitas podem ser ocasionais (mediante solicitação) e/ou regulares (convênio com uma congregação).

 

Existe uma necessidade de organizar os recursos para que ocorra o apoio espiritual adequado no maior número possível de instituições de saúde. Embora haja elementos incontestáveis da importância da fé na saúde, as iniciativas de apoio ainda acontecem de forma tímida e lenta, porque todo o conhecimento está fragmentado e disperso.

 

Pelo lado de algumas instituições de saúde, seus administradores ainda tateiam pelos caminhos da assistência espiritual, afim de que esta se concretize de modo construtivo. Há receio de que a presença de religiosos e/ou voluntários cause danos à rotina clínica, tais como perturbação de procedimentos ou proselitismo não solicitado. Em alguns casos, este receio está justificado por resquícios de experiências negativas no passado.

 

Pelo lado das tradições religiosas, há uma deficiência na capacitação adequada de ministros espirituais para atendimento nas instituições de saúde, e de conhecimento  para uma interação produtiva com profissionais de saúde, como também com os enfermos e seus familiares. Uma visita feita nestas condições fica completamente alijada de todo o tratamento clínico. Esta improvisação limita muito os benefícios que poderiam advir do apoio espiritual.

 

Conhecendo estas necessidades, os participantes propuseram a criação da Coalizão Interfé em Saúde e Espiritualidade. Desejamos construir e apontar formas para aprimorar a compreensão da interface saúde-espiritualidade, atuando no tripé assistência, ensino e pesquisa. Fomentaremos a troca de experiências e de competências para apontarmos caminhos capazes de superar os obstáculos atuais. Sugeriremos formas de preencher as lacunas relacionadas ao apoio espiritual a pacientes, familiares e colaboradores.

 

O grupo se reunirá periodicamente para propor ações a seus integrantes e a setores da sociedade que se propuserem a aproveitá-las, como instituições de saúde, congregações religiosas e agências governamentais.

 

A Coalizão Interfé em Saúde e Espiritualidade reconhece todas as religiões históricas, as juridicamente constituídas e tradições de fé que possuem valores éticos e universais. Sempre que há respeito e abertura, o intercâmbio destes preciosos valores é possível.

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